Mais uma copa chega ao fim e ainda choramos pelas mesmas coisas

É, na noite deste domingo chegou ao fim a Copa do Mundo de Futebol Feminino do Canadá.

A seleção dos EUA se consagrou tri campeã ao bater o Japão por 5 x 2.

Uma linda festa, estádio cheio, alguns bons jogos ao longo da competição outros nem tanto... e o Brasil...

Para nossa tristeza, mas com nenhum espanto, não chegamos à final. Torcemos muito por isso, é verdade, mas o insucesso era algo totalmente dentro do cronograma de um país que conduz a modalidade da forma como faz... ou melhor, que não conduz.

Apesar do esforço da CBF em fazer a seleção permanente, com toda estrutura possível, e com o questionamento de contestadíssimas convocações e críticas de clubismo, a coisa não andou e nem andaria de forma perfeita. Eu mesmo já havia dito muito antes da copa que o Brasil poderia aproveitar a copa para se "balizar" em relação a outras equipes e pensar na olimpíada de 2016. Pra mim o mundial nunca foi objetivo de pódio, mesmo torcendo pra que, quem sabe, acontecesse.

Além do mais, a seleção permanente não resolve nem 10% dos problemas da modalidade no país que está muito longe de se resumir à seleção, seja principal ou de base, mas é a tentativa de melhora

O que mais me deixa chateado é que Copa após Copa, Olimpíada após Olimpíada, choramos os mesmos problemas, questionamos as mesmas coisas, e a postura das pessoas que trabalham com futebol feminino não muda.

Muita gente fala, muita gente critica, e o que impressiona é ver que o foco real do questionamento não é o andamento da modalidade. O problema é sempre do "eu não estar no futebol feminino", "eu não estar dentro da CBF", "eu não fazer parte da seleção". Poucos os que se preocupam com a coisa realmente como ela é sem se questionar estar dentro ou fora disso ou daquilo.

No meu ponto de vista a CBF pode, deve e precisa, como entidade máxima do futebol brasileiro, organizar a bagunça que é a modalidade no Brasil. Se depender de esperar que clubes, profissionais e federações estaduais, por si sós, resolvam a coisa, continuaremos na "era das cavernas" do futebol feminino. Tem poder? Então ouça, mapeie, planeje as ações,  baixe resoluções, mande fazer e pronto.

Se não me engano, por volta de 2008 o Japão fez um planejamento para que em 10 anos se tornasse uma das referências mundiais na modalidade. Em Pequim 2008 disputou a medalha de bronze nas olimpíadas contra a Alemanha e perdeu. Com 5 anos de trabalho o Japão chegou a final do mundial em 2011 ganhando dos EUA. E em 2012 chegou à final da olimpíada de Londres ficando com a prata diante dos EUA.

Agora, 7 anos depois, o Japão chegou na final de mais um campeonato mundial e hoje é uma das referências mundiais ao lado de EUA, Alemanha, Acho que alcançaram os objetivos. Não sei o que fizeram, como fizeram, como está, mas só posso supor que está dando certo!


E por que no Brasil a coisa não anda? 

O Brasil figurou entre os 4 melhores nas Olimpíadas em Atlanta 96 (4º), Sidney 2000 (4º), Atenas 2004 (2º) e Pequim 2008 (2º). Esteve entre os melhores 3 melhores também nas Copas dos EUA 99 (3º) e China 2007 (2º).

Nos campeonatos Sul Americanos o Brasil conquistou títulos em 1991, 1995, 1998, 2003, 2010 e 2014, foi vice em 2006.

No Pan conquistamos o título em 2003 e 2007, ficamos com o vice em 2011.

O que nos difere de EUA, Alemanha, Japão, Noruega, Suécia, Canadá, França? 

Temos títulos e pódios, figuramos entre as melhores do mundo, e vocês acham mesmo que o problema é a falta de uma medalha de ouro? Ela mudaria tudo? Vocês só podem estar brincando!

Não é o ouro que faz a estrutura, mas a estrutura que permite conquistar o ouro e então o lugar mais alto do pódio. O trabalho continuado e planejado nos faz nos manter no topo, basta olhar ao redor.

Talvez um de nossos maiores problemas seja a falta de união, porque (já falei sobre isso) vejo muitas ações individuais ou de grupos que querem fazer A SUA MUDANÇA do futebol feminino, mas não vejo união para fazer O FUTEBOL FEMININO. Vejo desunião entre atletas e profissionais do meio. A maioria pensa em si, em aparecer, em estar na vitrine, mas não pensa no esporte afinal algumas atitudes inacreditáveis provam isso.

"Ai, mas tem gente que faz, Você está dizendo que eu não faço?" - apesar do generalismo que como de costume eu emprego nos textos e vocês ainda não aprenderam a interpretar, quem faz algo sabe o que faz e não precisa do tapa nas costas porque vai continuar fazendo, então não me venham reclamar porque se você se esforça você sabe disso e ponto.

O fato é que ano após ano choramos pelas mesmas coisas faz tempo! O fato é que não é a seleção permanente que vai mudar o rumo da modalidade! Se os que se dizem profissionais não buscarem fazer mais do que apenas querer puxar o tapete de outros a modalidade nunca vai andar.

Se queremos estar entre as 3 melhores seleções do mundo na copa de 2023 e na olimpíada de 2024, só um planejamento nacional de desenvolvimento e fomento da modalidade vai resolver seguido de trabalho duro, muito duro por pelo menos uns 10 anos. E me questiono se temos realmente profissionais qualificados e dispostos a isso. É triste!

Em maio de 2013, em evento no Museu do Futebol, em SP, as ex atletas da seleção americana de futebol, Julie Foudy e Brandi Chastain contaram que o caminho da Seleção Americana não foi fácil nessa caminhada rumo a excelência, e que as atletas enfrentaram muitas dificuldades, porém a união das atletas americanas e a postura das mais velhas, que tomavam a frente deste grupo UNIDO e rebatiam, questionavam e cobravam melhoria ou deixavam claro os descontentamentos fez toda a diferença. Se alguma atitude ou ação não as agradava, elas simplesmente chegavam e diziam "Isso não é bom pra gente e a gente não concorda" "isso não pode ser assim..." e essa postura ajudou muito no crescimento e respeito às atletas e modalidade.

Aqui no Brasil nenhum dos profissionais fala "não está bom, vamos unir pra mudar". É sempre um apontamento de dedos e erros e de busca de culpados quando os culpados são TODOS!

Ainda não sei qual o sexo do bebê que minha esposa espera, mas se for uma menina e quiser futuramente jogar futebol, gostaria que ela tivesse, daqui uns 10 anos, uma estrutura melhor para poder fazer isso se ela assim quiser.

O futebol feminino no Brasil está longe do ideal, muito longe. A modalidade ainda é um bebê querendo ganhar força nas pernas e braços para aí então começar a engatinhar... um bebê de 30 anos negligenciado e mal tratado pela grande e larga maioria das pessoas que dizem se preocupar com ele, mas só querem mesmo é ver ele crescer do nada, dizer que são os pais e querer ganhar dinheiro em cima do filho crescido.

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