Futebol Feminino: faltam peças de qualidade hoje e continuarão faltando daqui a 20 anos

O futebol feminino brasileiro passa por momentos de dificuldade principalmente quando o assunto é formação de base e reposição de talentos.

Raríssimos os clubes que tem algum trabalho nesse sentido. Logo os reflexos são vistos na dificuldade de localizar peças de reposição para a seleção brasileira de futebol feminino.

As atletas das categorias adultas refletem bem a nossa cultura que pouco se preocupa em como e onde são  formadas nossas jogadoras.

Mas como refletem?  Refletem quando vemos dificuldades físicas, táticas e técnicas nos jogos. Erros de passe, batida na bola pouco polida, dificuldade de domínio, grande dificuldade em jogar de cabeça erguida, a dificuldade de raciocínio e identificação da melhor opção para um passe em progressão, entre outras coisas.

Além da enorme dificuldade por estas meninas terem ficado dos 10 aos 16 ou 17 anos sem um trabalho mais adequado focado no básico que qualquer jogadora necessita, enfrentamos o problema de haver poucos trabalhos em categorias adultas onde profissionais tenham a paciência,  percepção, didática e conhecimentos necessários para trabalhar e corrigir essas deficiências que as jogadoras possuem e que não são poucas.

Claro que devemos pensar também que um clube não tem todo tempo do mundo para corrigir uma atleta que aprendeu e desenvolveu seu estilo de jogar de forma pouco eficiente durante 6 anos seguidos e agora precisa corrigir. O clube ainda encontra a dificuldade de lidar com meninas moral, comportamentalmente formadas de acordo com o meio em que viviam e com as pessoas que as treinavam passando a imagem de postura e comportamento que elas levam, querendo ou não,  como espelho e absorvem. Para conseguir "corrigir" isso é algo complexo e onde deve haver muito tato.

Um clube levaria pelo menos uns 6 meses para começar a ver resultados em um trabalho de "ajuste fino" ou "polimento" destas meninas e como citei antes, raros os clubes e profissionais que, além de ter tal capacidade e estarem também moralmente aptos a isso,  tem a paciência necessária para retirar em meio aquele monte de pedras e lama que é a jogadora crua ou mal formada e descobrir e moldar aquilo tudo escavando e lavando até encontrar a pedra que ele possa transformar em um  diamante.

O nível técnico das atletas nos clubes não vem se apresentando dos melhores e isso dificulta até  para seleção que não tem lá  muitas opções,  muito menos tem a obrigação de corrigir o resultado do processo de formação que aquela atleta passou e levou até  chegar ali.

O correto seria que estas jogadoras chegassem prontas na seleção e pudessem apresentar seu melhor para defender a modalidade e seu país,  mas a realidade é bem diferente.

A Seleção pode não ter a obrigação de formar atletas, coisa que realmente não tem, mas a CBF como entidade máxima, gestora e responsável pelo futebol brasileiro tem, A MEU VER, a função e obrigação de identificar, analisar, pensar na solução e, junto à federações estaduais, clubes e até do ministério do esporte, aplicar as medidas necessárias para que estas lacunas que refletem na qualidade do futebol nacional na imagem da seleção e dos clubes que aparecem na TV no Brasileirão, deixem de existir.

Não adianta dizer simplesmente que o futebol feminino é difícil,  um produto ruim, sem visibilidade quando se sabe onde começa o problema e nada é feito para saná-lo. Construir errado e depois tentar reformar é mais demorado e mais carro do que fazer certo na primeira vez.

Ou tomamos vergonha na cara e olhamos com muito carinho para nosso atual processo de formação de base e todas as suas deficiências e desafios focando em que futebol feminino queremos ter daqui a 15 ou 20 anos, ou continuaremos a chorar, andando em círculos,  reclamando como coitadinhos que nunca pararam para realmente tentar resolver o problema e conseguir fazer a modalidade andar com as próprias pernas... e pior, que dizem que a culpa é sempre do outro e não sua.

Somos todos um pouco culpados.

Mas, só acho...

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