Brasileirão Feminino com mais clubes, criação da Série C (A3), volta da Copa do Brasil e direitos trabalhistas

A partir de 2019 os clubes de futebol masculino que tiverem a pretensão de disputar a Copa Sul Americana e a Libertadores da América precisarão ter equipes de Futebol Feminino.

A notícia é antiga e a abordagem também, mas não podemos deixar de falar sobre isso.

Com a aproximação dessa "obrigatoriedade" não há como não pensar nos desdobramentos positivos e negativos que isso pode trazer ao futebol feminino nacional.

Os pontos positivos ou negativos dependem, basicamente, da forma como quem gerencia a modalidade ou as competições nacionais femininas, pensa e age referente à modalidade.

FUTEBOL FEMININO INFLADO E MAL PENSADO PODE CAUSAR INJUSTIÇAS

Se a partir do ano de 2018 os clubes brasileiros com equipes masculinas, que estão hoje na zona de Libertadores e Copa Sul Americana fossem obrigados a ter equipes femininas teríamos a presença de, ao menos, mais 13 times no Brasileirão Feminino.


Da forma como hoje é feito (clubes masculinos que tem ou que montam equipes femininas tem prioridade pela vaga na competição feminina) podemos concluir que 13 times de tradição do futebol feminino ficariam fora da série A1, sendo provavelmente "deslocados" para a série A2.

Por esta lógica a consequência natural seria de que 13 clubes femininos que disputam a série A2 fossem substituídos pelos que estavam na série A1 e então não teriam vaga para disputar o brasileiro feminino na temporada.

Esse talvez seja um dos pontos mais preocupantes. Desde o lançamento do Brasileiro Feminino em 2013 pelo Ministério do Esporte não existiu preocupação sobre a forma de ingresso facilitada e prejudicial que a entrada dos clubes masculinos pode ter no cenário feminino uma vez que não há critérios. Critérios esses que foram cobrados durante 3 anos pelo grupo de desenvolvimento de futebol feminino do próprio Ministério do Esporte, porém que nunca foram levados em consideração.

Não podemos ignorar a força e luta de clubes de tradição da modalidade que mantiveram o futebol feminino brasileiro vivo durante décadas até os dias de hoje.

DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS,  NOVAS COMPETIÇÕES, VOLTA DA COPA DO BRASIL E CRIAÇÃO DA SÉRIE C (A3)

Já pensando à frente, sem dúvida será preciso analisar e aplicar novos critérios para definir a participação dos times masculinos no Brasileirão Feminino.  Uma das opções e criar "pesos" em determinados aspectos que somarão pontos para o clube e definirão quem terá pontuação para estar na série A1, A2 e A3 (hoje ainda não existe a série C - A3) do feminino.

Clubes do futebol feminino com mais tempo de atuação na modalidade, com anos de disputas de estaduais, títulos estaduais, e equipes de base teriam pontuação diferenciada para esse "ranqueamento". Dessa forma a tradição seria mantida e os clubes masculinos,  precisariam verdadeiramente se preocupar com a fomentação da modalidade para então ter direito a disputar a série A do feminino.

Esse tipo de ação proporcionaria justiça aos clubes femininos e também proporcionaria melhor nível e participação nos campeonatos estaduais, promovendo real evolução da modalidade em todos, ou grande parte, dos Estados do Brasil.

A volta da Copa do Brasil e criação de uma série C ou de competições regionalizadas que dessem acesso ao Brasileirão Feminino também são opções, mas ainda assim seria necessário também pensar em um brasileiro feminino com mais equipes participantes em cada série.

PONTOS POSITIVOS DA OBRIGATORIEDADE AOS CLUBES MASCULINOS

A obrigatoriedade também tem pontos positivos, desde que ocorra preocupação e foco em desenvolver a modalidade e alguns quesitos.

Vale ressaltar que desde que o Brasileirão Feminino foi relançado em 2013, não foi feito nenhuma ação ou plano de marketing visível/palpável, ou houve preocupação em tornar o futebol feminino um produto e geri-lo como tal, onde a competição ajudou sim no crescimento da modalidade, porém de forma extremamente tímida e onde a competição não alcançou seu objetivo básico por falta de planejamento adequado.

Claramente o pensamento é limitado quando o assunto é futebol das mulheres no Brasil, porque a questão cultural/machismo atrapalha, mas é evidente que quando o assunto é o feminino, tudo fica bem mais difícil nas justificativas dos gestores brasileiros.

A obrigatoriedade dos times de futebol feminino, se planejada e pensada, pode trazer benefícios. Alguns deles são:

  • Aumento dos clubes de futebol feminino no Brasil;
  • Massificação da modalidade;
  • Oportunidade de prática de futebol feminino em todo território nacional, fazendo com que não haja necessidade de que meninas saiam de seus estados para tornar real o sonho de jogar futebol;
  • Maior desenvolvimento e evolução do esporte e consequentemente melhora do material humano para Seleções adultas e de base femininas;
  • Transformação do futebol feminino em negócio com desenvolvimento de planos de marketing, licenciamento de produtos, aumento do patrocínios e exploração de uma nova fatia de mercado que hoje não é explorada;
  • Evolução salarial e de direitos trabalhistas no futebol feminino tornando possível viver ao invés de apenas sobreviver do esporte;
  • Possibilidade de aproximação com Secretarias de políticas públicas, governos estaduais e federal para desenvolvimento de projetos com a finalidade de diminuir a violência cultural,  simbólica e todo tipo de violência e preconceito contra a mulher no esporte e na sociedade.
Então, vamos torcer para que os pontos positivos sejam trabalhados de forma a beneficiar a modalidade e que os pontos que podem ser negativos também sejam pensados e contornados para que no fim o futebol feminino e também as questões de gênero que envolvem mulheres no esporte e na sociedade brasileira sejam os reais vencedores.

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